Para responder às questões de 1 a 4,  leia o texto abaixo.
AS MÃES DO CRACK
  Drauzio Varella 
    Difícil avistar um grupo de usuários de crack em que  não haja uma menina grávida. Desviamos o olhar para não  correr o risco de encontrar o delas,  embaçado pela escravidão  da dependência.
     As razões que as levam a conceber um filho na miséria  em que se encontram são óbvias: crack é droga psicoativa de  uso compulsivo que destrói o caráter e subjuga o arbítrio. É  um experimento macabro da natureza que reduz seres humanos  à situação de animais de laboratório,  condicionados a buscar,   a qualquer preço,  a recompensa que a cocaína lhes traz.
     Quando o adolescente rouba a aliança de casamento  da mãe viúva que pega três conduções para chegar ao trabalho,   não é por falta de amor,  mas pela necessidade. É a premência  incoercível para sentir o baque da cocaína no cérebro,  prazer  intenso e fugaz como o orgasmo,  que o leva a arruinar o futuro  pessoal e a infernizar a vida dos familiares. Como bem  caracterizou um usuário:
    - Doutor,  pense no desespero de correr para o banheiro  no pior desarranjo intestinal. A compulsão do crack é cem  vezes pior. 
     No caso das meninas dependentes,  contingente que  aumenta de forma assustadora,  as conseqüências são mais  trágicas. Muitas vezes iniciadas antes de chegar à adolescência,   são elas as principais vítimas da crueldade das ruas para as  quais foram arrastadas.
    Às desprovidas de talento e coragem para furtar,   assaltar ou pedir esmola,  sobra o recurso derradeiro: vender  o corpo. A preço vil,  porque transitam num ambiente social  formado por uma legião de desvalidos que perambula pelas  cracolândias sem destino nem banho,  para quem sexo não é  prazer que chegue aos pés do crack. 
      No meio desse refugo social,  quando conseguem vinte  reais por um programa é motivo de festa; caso contrário,   aceitam dez,  o bastante para uma pedra. Em dias de menos  sorte,  cobram cinco por uma sessão de sexo oral,  provação  especialmente dolorosa,  quando os lábios estão queimados  pelo cachimbo incandescente.
     Esse é o cenário de horror em que engravidam.
    Sem que tenham consciência de seu estado,  as  primeiras semanas do desenvolvimento embrionário acontecem  sob o impacto da cocaína. Quando descobrem a gravidez,  a  realidade dificilmente se altera.
     Na Penitenciária Feminina,  atendi uma moça,  que aos  treze anos deu à luz numa calçada da rua Dino Bueno,   anestesiada pela droga,  sem entender que aquelas cólicas  eram dores de parto.
      Em São Paulo,  a maioria das parturientes do crack é  encaminhada para o Hospital Maternidade Leonor Mendes de  Barros,  na zona leste,  que procurou se adaptar para atender  esse contingente que cresce a cada ano. Dez anos atrás,  havia  um ou dois partos de usuárias por ano; agora,  há pelo menos  um por semana.
    Como tratar dos bebês,  quando entram em crise de  abstinência? Que destino dar a eles,  quando a mãe mora numa  cracolândia?
    Por lei,  a maternidade é obrigada a entrar em contato  com o Conselho Tutelar,  que pode retirar o poder familiar da mãe,  caso a considere incapaz de cuidar do filho. O recém-nascido  vai para uma creche,  enquanto a Justiça procura  localizar alguém da família que se interesse em recebê-lo.  Quando a tentativa falha,  a criança é enviada para adoção.
     Separar a mãe do filho é experiência traumática que  costuma devolvê-la mais depressa para as ruas. Até a gravidez  seguinte,  durante a qual continuará a usara droga. Elas assim  o fazem não porque sejam mães desnaturadas,  mas porque  o crack é mais poderoso do que todas as vontades,  mais forte  até do que o instinto materno.
     Exigir que sob o domínio do crack lhes sobre  discernimento para a disciplina dos métodos contraceptivos  é arrogância dos ignorantes que desconhecem a ação  farmacológica da cocaína; é tripudiar sobre a desgraça alheia. 
      Existem anticoncepcionais injetáveis administrados a  cada três meses,  ideais para esse tipo de situação. Como é  insensato esperar que a usuária procure os Serviços de Saúde,   não seria muito mais lógico levá-los até ela?
     Antes que os defensores de ideologias medievais rotulem  como eugênica essa solução,  vamos deixar claro que não  haveria necessidade de qualquer constrangimento,  as  dependentes aceitariam de bom grado a oferta do  anticoncepcional. Elas não concebem filhos com o intuito de  viver os mistérios da maternidade. 
           
            I. O autor afirma que as meninas dependentes de crack  não engravidam por vontade própria e que elas não  têm o instinto materno.  
II. Os viciados em crack sentem necessidade do prazer  intenso provocado pela droga e isso faz com que  busquem todas as formas para conseguir as pedras.  
III. O autor defende a ideia da obrigatoriedade das injeções  anticoncepcionais nas meninas viciadas.