“A análise crítica dos processos sociais mal analisados e mal dominados que atuam,  sem o conhecimento do pesquisador e com sua cumplicidade,  na construção dessa espécie de artefato socialmente irrepreensível que é a 'história de vida' e,  em particular,  no privilégio concedido à sucessão longitudinal dos acontecimentos constitutivos da vida considerada como história em relação ao espaço social no qual eles se realizam não é em si mesma um fim.  
  Ela conduz à construção da noção de trajetória como série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente (ou um mesmo grupo) num espaço que é ele próprio um devir,  estando sujeito a incessantes transformações. Tentar compreender uma vida como uma série única e por si suficiente de acontecimentos sucessivos (…) é quase tão absurdo quanto tentar explicar a razão de um trajeto no metrô sem levar em conta a estrutura da rede,  isto é,  a matriz das relações objetivas entre as diferentes estações.”  
BOURDIEU,  Pierre,  A ilusão biográfica. (In Usos e Abusos da História Oral. Amado,  J. E Ferreira,  M. M. (coord.)   
  Rio de Janeiro: Editora FGV,  1996,  pp.189-190.):