mostrar texto associado
          
          
             esconder texto associado
          
          
          
                                          Degenerados 
   Descobriram num apartamento da cidade de Augsburg, perto 
de Munique, Alemanha, mais de 1400 quadros desaparecidos 
durante a Segunda Guerra Mundial. Os quadros incluem pinturas 
e desenhos de expressionistas alemães como Georg Grosz e Max 
Beckmann mas também de artistas como Matisse, Chagal, Renoir, 
Toulouse-Lautrec, Picasso e outros mestres europeus. 
A descoberta, segundo o "New York Times", foi há algum tempo, 
mas as autoridades alemãs só a noticiaram agora porque temiam 
que a revelação aumentasse a grossa confusão sobre a 
propriedade das obras encontradas.
   Elas são, obviamente, produto da pilhagem de museus e 
coleções privadas dos territórios invadidos pelos nazistas na 
guerra. Mas estavam no apartamento de um descendente de 
Hildebrand Gurlitt, que, apesar de ser judeu, foi o escolhido por 
Goebbels para avaliar e ajudar a vender os quadros e era, 
legalmente, o dono do tesouro.
   As obras incluem o que Hitler chamava de arte "degenerada" 
- os expressionistas alemães, principalmente - que pela sua 
vontade deveria ser destruída, e as de grande valor comercial, 
cuja venda reforçaria os cofres do Terceiro Reich. Mas na 
promiscuidade do achado não se distingue umas das outras, e 
não deixa de haver uma triste ironia no fato de os mestres do 
impressionismo francês, por exemplo, estarem de novo na 
companhia de "degenerados",  como no famoso Salão dos 
Rejeitados em Paris, que reuniu os enjeitados pelos acadêmicos 
da época, e de onde saiu a grande arte do século XIX.
   Ainda existem milhares de obras de arte desaparecidas na 
guerra, das quais não se tem notícia. Mas aos poucos elas 
reaparecem. Arte é difícil de matar. Inclusive a "degenerada". Há 
pouco estive num museu em Munique em que havia uma 
exposição dos expressionistas alemães. Todos mortos, e todos 
vivíssimos.
     (VERÍSSIMO, Luiz Fernando. O Globo,10/11/2013) 
          
          
           "Arte é difícil de matar. Inclusive a 'degenerada'". Nessa frase, o adjetivo degenerada