O homem e a galinha
 
     Era uma vez um homem que tinha uma galinha. Era uma galinha como as outras. Um dia a galinha botou um ovo de ouro.
 
     O homem ficou contente. Chamou a mulher:
 
     – Olha o ovo que a galinha botou.
 
     A mulher ficou contente:
 
     – Vamos ficar ricos!
 
     E a mulher começou a tratar bem da galinha. Todos os dias a mulher dava mingau para a galinha. Dava pão-de-ló, dava até sorvete. E todos os dias a galinha botava um ovo de ouro. Vai que o marido disse:
 
     – Pra que esse luxo com a galinha? Nunca vi galinha comer pão-de-ló… Muito menos tomar sorvete!
 
     – É, mas esta é diferente! Ela bota ovos de ouro!
 
     O marido não quis conversa:
 
     – Acaba com isso mulher. Galinha come é farelo.
     Aí a mulher disse:
 
     – E se ela não botar mais ovos de ouro?
 
     – Bota sim – o marido respondeu.
 
     A mulher todos os dias dava farelo à galinha. E a galinha botava um ovo de ouro. Vai que o marido disse:
 
     – Farelo está muito caro, mulher, um dinheirão! A galinha pode muito bem comer milho.
 
     – E se ela não botar mais ovos de ouro?
 
     – Bota sim – o marido respondeu.
 
     Aí a mulher começou a dar milho pra galinha. E todos os dias a galinha botava um ovo de ouro. Vai que o marido disse:
 
     – Pra que esse luxo de dar milho pra galinha? Ela que procure o de-comer no quintal!
 
     – E se ela não botar mais ovos de ouro? – a mulher perguntou.
     – Bota sim – o marido falou.
 
     E a mulher soltou a galinha no quintal. Ela catava sozinha a comida dela. Todos os dias a galinha botava um ovo de ouro. Um dia a galinha encontrou o portão aberto. Foi embora e não voltou mais. Dizem, eu não sei, que ela agora está numa boa casa onde tratam dela a pão-de-ló.
 
(Ruth Rocha, Enquanto o mundo pega fogo,2. ed.Rio de Janeiro, Nova Fronteira,1984.p.14-9.)