[...] nas regiões subdesenvolvidas o responsável político está sempre convocando o povo ao combate. Combate contra o colonialismo, combate contra a miséria e o subdesenvolvimento, combate contra as condições esterilizantes. O vocábulo que utiliza em seus apelos é um vocábulo de chefe de Estado-Maior: “Mobilização das massas”, “frente de agricultura”, “frente de analfabetismo”, “derrotas sofridas”, “vitórias alcançadas”. A jovem nação independente evolui perante os primeiros anos numa atmosfera de campo de batalha. É que o dirigente político de um país subdesenvolvido avalia com assombro o caminho imenso que seu país deve percorrer. Recruta o povo e lhe diz: “Cinjamos os lombos e trabalhemos”. O país, tenazmente dominado por uma espécie de loucura criadora, lança-se num esforço gigantesco e desproporcionado. O programa consiste não somente em sair do atraso, mas em alcançar as outras nações com os meios disponíveis. Prevalece a crença de que os povos europeus atingiram um alto grau de desenvolvimento em consequência de seus esforços. Provemos então ao mundo e a nós mesmos que somos capazes de iguais realizações. Esse modo de colocar o problema da evolução dos países subdesenvolvidos não nos parece justo nem razoável. (FANON, F. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1968.)
A partir das ideias do texto, compreende-se que as desigualdades internacionais verificadas no mundo contemporâneo