Em abril de 1968, um grupo de cientistas de dez países se  juntou para estudar o futuro da humanidade. O grande assunto da  época era o crescimento populacional: naquela década, a taxa  média de natalidade havia ultrapassado a marca de cinco filhos  por mulher, a maior já registrada.
    O grupo, que ficou conhecido como clube de Roma  (a primeira reunião ocorreu na capital italiana), passou  quatro anos debruçado sobre essa e outras questões, e, em 1972,  transformou as conclusões em livro: Os limites do crescimento.  A obra usava dados históricos e modelos matemáticos para  mostrar como, além de aumentar as emissões de CO2 e esquentar  a atmosfera, o forte crescimento da população — que acontecia  devido à alta natalidade combinada à “redução, muito  bem-sucedida, na taxa de mortalidade global” — poderia ter  outras consequências catastróficas, como o esgotamento dos  recursos naturais. E apresentava duas possíveis soluções: ou a  humanidade diminuía voluntariamente seu ritmo de crescimento,  ou o próprio planeta acabaria fazendo isso, reduzindo a  população por meio de um colapso ambiental.
  Os limites do crescimento tiveram enorme  repercussão — foi traduzido para dezenas de idiomas e vendeu  mais de 30 milhões de exemplares pelo mundo —, mas suas  advertências não foram ouvidas. A população global, que,  em 1972, era de 3,8 bilhões, mais que dobrou: em 2022, a Terra  cruzou a marca de 8 bilhões de habitantes. 
    Hoje, o aquecimento global e outros problemas ambientais  são temas dominantes e urgentes. Todo ano, a organização  americana Global Footprint Network calcula o chamado dia da  sobrecarga da Terra, a data em que ultrapassamos a capacidade  do planeta de reequilibrar seus sistemas ecológicos e regenerar  recursos naturais. 
    Esse indicador é calculado desde 1971; naquele ano, a  humanidade atravessou o limite em dezembro. Já em 2023, isso  aconteceu em 2 de agosto. Isso significa que, no ano de 2022,  usamos 75% mais recursos do que o planeta pode suportar. 
    Ao mesmo tempo, há algo diferente acontecendo. Nada  menos que 124 países estão com natalidade inferior a 2,1 filhos  por mulher. Essa é a chamada “taxa de reposição”, que, segundo  a ONU, é necessária para manter a população estável (2 pessoas  novas substituem os pais, e o 0,1 adicional compensa o número  de indivíduos que não geram descendentes). 
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