REVOLUÇÃO EM CURSO
O problema da obesidade chega a níveis cada vez mais preocupantes no Brasil. Entre 2003 e 2019, a quantidade de pessoas acima do peso mais que dobrou, chegando a 26,8% da população. A projeção para 2025 é que esse número suba para 31%. Única forma de frear o crescimento, a prevenção vem sendo ignorada por muita gente. Levantamentos mostram que metade dos brasileiros raramente ou nunca pratica qualquer atividade física. Se não bastasse, à mesa, durante as refeições, boa parte das pessoas consome poucos nutrientes e muitas calorias. Um agravante é a grande preferência pelos chamados alimentos ultraprocessados, como biscoitos, torradas e salgadinhos. Combinados, sedentarismo e péssimos hábitos alimentares formam a receita que alimenta a obesidade.
A ciência tem sido uma grande aliada na luta para controlar o problema, e esse esforço está hoje a cargo de pesos-pesados. No ringue dos avanços mais notáveis na área nos últimos anos, estão as duas farmacêuticas com o maior valor de mercado da atualidade. De um lado, a americana Eli Lilly, com seu medicamento tirzepatida, conhecido comercialmente como Mounjaro. Do outro, a dinamarquesa Novo Nordisk, dona da semaglutida, princípio ativo do Wegovy e de seu primo mais famoso, o Ozempic, que é destinado ao diabetes. Demanda para esses fármacos não falta: hoje o excesso de gordura corporal afeta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. Mas quem será que leva a melhor na batalha pela perda de peso?
Em pesquisa do fim do ano passado financiada pela Eli Lilly, a tirzepatida levantou o cinturão do emagrecimento. Enquanto ela promoveu uma redução, em média, de 20% no peso corporal, a rival chegou a quase 14% - ambos números expressivos, diga-se. Os participantes do braço do Mounjaro perderam por volta de 22 quilos; os do Wegovy enxugaram 15 quilos no período. Feitas as contas, os autores do comparativo constataram que a diminuição de peso relativa foi 47% maior com a tirzepatida. O Mounjaro foi aprovado pela Anvisa em 2023 e acaba de ser divulgada a previsão do início das vendas do remédio no Brasil, conforme mostra a reportagem “Chegada de peso” desta edição. Contudo, não há indicação dele para controle da obesidade - o que implicará o chamado uso off-label.
Esse medicamento e outros que engordam a lista da nova geração de drogas utilizadas no combate à obesidade já provocam uma revolução comportamental aqui no Brasil e no mundo. Com a devida orientação médica, são ferramentas poderosas para auxiliar pacientes na faixa de maior risco, aqueles com muita dificuldade para perder peso. Só não são drogas milagrosas, pois o problema pode voltar rapidamente se não ocorrer uma mudança de hábitos. A ciência tem dado uma grande contribuição na batalha contra a doença, sem dúvida, mas o esforço individual na busca por uma rotina mais saudável segue sendo imprescindível.
Revista Veja 2936, ano 58, nº 12.21 de março de 2025
No final do terceiro parágrafo do texto, encontramos a expressão “off-label”. Pelo contexto em que a expressão é utilizada, podemos inferir que ela se refere a um uso de um medicamento