Texto 2: A Linguística e o Ensino da Língua Portuguesa no Brasil: Uma Visão Crítica
O ensino da Língua Portuguesa, é praticamente um consenso no meio educacional brasileiro, apresenta-se, em geral, insatisfatório, improdutivo, não propiciando a formação de leitores e produtores textuais proficientes, afinal, o seu objetivo central. Que interesse, que estímulo pode ter, então, tal ensino para professores e alunos? A não ser para professores que se rejubilem, se sintam realizados, só porque suas turmas estão classificando com acerto, por exemplo, as orações coordenadas, numa prática, não obstante, frequentemente mecânica. A simples presença de um “mas”, numa frase, conduziria o aluno ao emprego do termo gramatical correspondente: oração coordenada adversativa.
Trata-se, evidentemente, de uma análise que, se bem que seja útil como meio de comprovação, mostra-se insuficiente, redutora, muitas vezes, na apreensão do sentido da oração na frase em que ocorre. Procedendo deste modo, teríamos análises idênticas para a oração coordenada em frases como “Ele agrediu o vizinho, mas foi por justa causa” e “Foi por justa causa, mas ele agrediu o vizinho”, quando, na verdade, a estruturação semântica das duas é oposta, porque os pontos de vista argumentativos são opostos. Em uma análise gramatical plena, deve-se apreender sempre o intento, o sentir do falante, de maneira a distinguir acepções textuais ou sentidos diversos, como no caso do “mas”, em enunciados com as mesmas unidades linguísticas.
Convive-se, desta maneira, com um ensino que, em geral, não cultua a prática reflexiva da língua, o seu domínio, em suas variedades e em seus modos diversos de dizer, que não motiva, assim, o gosto pelo seu estudo, pela leitura compreensiva de seus textos e pela produção constante destes, compartimentado em aulas de redação, aulas de exercícios de gramática normativa, ou descritiva, e aulas de leitura, que parece longe, cada vez mais, de contribuir, por exemplo, para o florescer do sentimento poético dos estudantes, tão fundamental na formação de uma cidadania integral.
Lamentável tal situação, quando se tem a compreensão de a linguagem ser imprescindível para a definição do homem. Possuidor da palavra é que o homem torna-se senhor do mundo da natureza e do mundo dos espíritos, como enfatiza o instigante linguista italiano Antonino Pagliaro, ou, como assevera Coseriu, a linguagem é o primeiro fenômeno da liberdade do homem (...). O homem vive em um mundo linguístico que ele mesmo criou como ser histórico. Pode-se ter objeto mais fascinante de estudo?
Ao fazer, já ao final do curso de graduação, indagações aos alunos sobre aspectos básicos do fenômeno linguístico, tinha, frequentemente, surpresas desagradáveis (por exemplo, a gíria ser identificada como linguagem desleixada, ou com a fala de quem não tem bom domínio da língua). Como é profundamente constrangedor, já ressaltei em outro texto, ouvir um professor de português opinar sobre assuntos linguísticos correntes como se leigo fosse, através, por exemplo, de julgamentos como “o português é uma língua complexa e de aquisição difícil”.
CARLOS EDUARDO FALCÃO UCHÔA
Adaptado de revistaconfluencia.org.br.
Assim como no exemplo das adversativas, também é comum a ausência de enfoque nos valores argumentativos dos tipos de sujeito. O sujeito indeterminado, por exemplo, muitas vezes representa o apagamento de uma informação importante.
No texto, pode-se considerar que isso ocorre em: