POR QUE SE VIVE MAIS FORA DA PERIFERIA
Para viver por mais tempo, um cidadão precisa ter acesso garantido a uma série de direitos básicos - principalmente à renda, como lista Alessandra Benevides, Coordenadora do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) do campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral.
A pesquisadora destaca que "são múltiplos os fatores que ligam a renda com viver mais". "Com mais renda, você pode escolher alimentos mais saudáveis, ter uma boa nutrição. Morar em bairros com melhor saneamento básico e, automaticamente, ter menor risco de doenças", inicia.
"Maior renda está associada também a maior educação. Com isso, a pessoa cuida mais da saúde. Isso também é um mecanismo que liga maior riqueza a maior expectativa de vida", complementa Alessandra.
A Coordenadora do LEP aponta ainda que questões de infraestrutura e segurança dos bairros interferem no estilo de vida e, portanto, influenciam no indicador. "Além do saneamento, bairros mais ricos têm espaços públicos, praças em que a pessoa pode fazer atividade física sem ter que desviar de buraco, com risco menor à segurança", observa.
"Todos esses aspectos bem tangíveis e objetivos, como você ter um cano de esgoto para sua residência, que é o saneamento; como as coisas mais intangíveis, como fortalecimento de habilidades socioemocionais e cognitivas, levam a uma redução da desigualdade social e te levam a viver mais, em geral", resume.
Élcio Batista, vice-prefeito de Fortaleza e superintendente do Iplanfor, reconhece que o mapeamento "expressa que essa cidade é desigual", e endossa que a diferença de tempo médio de vida entre bairros mais ricos e mais pobres da cidade "tem uma multiplicidade de fatores", como: infraestrutura urbana; acesso a saneamento básico e água potável; alimentação; atividades econômicas do bairro; acesso ao sistema de saúde e a consultas frequentes; violência.
É para a violência urbana, aliás, que as áreas mais pobres de Fortaleza perdem mais gente, como analisa Luiz Fábio Paiva, sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da UFC - sendo, então, importante causa de diminuição da longevidade da população nas periferias.
"Uma estratégia dos grupos é o controle territorial, para, a partir dele, conseguir desenvolver esquemas de armazenamento, comércio e ganhos financeiros. E acontecem preferencialmente nas periferias", assinala. Nas violentas disputas territoriais, então, "sobra" para as periferias. "Quando se fazem acertos de contas, disputas, quando se planeja chacinas, os territórios das periferias são os alvos. Essa mortandade afeta a população como um todo, e isso aparece nos dados de longevidade das cidades", frisa.
Élcio também observa que "nos bairros de maior vulnerabilidade, o índice de homicídios maior de pessoas mais jovens puxa a expectativa de vida pra baixo". O gestor elenca, porém, o direito à saúde como um dos maiores desafios para equiparar as condições de vida da população nas distintas regiões de Fortaleza.
"Fortalecer a atenção primária é uma das principais ações, de forma integrada com o esporte e o lazer. Trabalhar o acesso à saúde com consultas e exames e não trabalhar a atividade física, o lazer das pessoas, para enfrentar os problemas de saúde mental; não se consegue enfrentar o problema", analisa Élcio, que também é cientista social.
Realidade cortante em Fortaleza, a pobreza que passa entre gerações contribui diretamente para abreviar o tempo de vida nas periferias. Alessandra, do LEP/UFC, define o cenário como "armadilha da pobreza". "É isso: os avós eram pobres, não conseguiram estudar, sempre trabalharam; a mãe criou sozinha, é pobre como os avós; a pessoa foi criada no mesmo contexto, e essa é a armadilha. Acontece quando não há investimentos suficientes para romper esse círculo vicioso", lamenta.
Embora a desigualdade social englobe aspectos como renda, saúde, acesso a serviços públicos, à Justiça e à educação, é neste último onde reside o maior potencial de rompimento do ciclo da pobreza, como frisa a pesquisadora.
"Educação é um começo para que você saia dessa armadilha da pobreza, porque interfere na renda. Às vezes, quando você consegue mudar de casa, de bairro, você consegue romper esse ciclo. Às vezes você está num bairro perigoso e não quer criar seus filhos lá", ilustra. (...)
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De acordo com Alessandra Benevides, Coordenadora do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) do campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral, a armadilha da pobreza se caracteriza pela