Amar era tão infinitamente melhor
Às vezes é preciso recolher-se. O coração não quer obedecer, mas alguma vez aquieta; a ansiedade tem pés ligeiros, mas alguma vez resolve sentar-se à beira dessas águas. Ficamos sem falar, sem pensar, sem agir. É um começo de sabedoria, e dói. Dói controlar o pensamento, dói abafar o sentimento, além de ser doloroso parece pobre, triste e sem sentido.
Amar era tão infinitamente melhor; curtir quem hoje se ausenta era tão imensamente mais rico. Não queremos escutar essa lição da vida, amadurecer parece algo sombrio, definitivo e assustador. Mas às vezes aquietar-se e esperar que o amor do outro nos descubra nesta praia isolada é só o que nos resta.
Entramos no casulo fabricado com tanta dificuldade, e ficamos quase sem sonhar. Quem nos vê nos julga alheados, quem já não nos escuta pensa que emudecemos para sempre, e a gente mesmo às vezes desconfia de que nunca mais será capaz de nada claro, alegre, feliz.
Mas quem nos amou, se talvez nos amar ainda há de saber que se nossa essência é ambiguidade e mutação, este silencio é tanto uma máscara quanto foram, quem sabe, um dia os seus acenos.
Lya Luft
https://poetriz.wordpress.com/category/verso-prosa/lya-luft/
Considere as afirmativas apresentadas a seguir relacionadas à compreensão do texto de Lya Luft. Registre V, para verdadeiras, e F, para falsas:
(__) O "recolher-se" e o "aquietar-se", embora dolorosos e desafiadores, representam um estágio necessário de autoconhecimento e de resignação diante da ausência, permitindo uma introspecção que precede uma possível renovação ou a esperança de um reencontro.
(__) A autora emprega a antítese entre a dor do controle emocional e a alegria do passado, com o propósito de sublinhar a impossibilidade de superar a angústia da perda sem a negação completa dos sentimentos e a anulação da identidade individual.
(__) A metáfora do "casulo fabricado com tanta dificuldade" e a subsequente sensação de inatividade, como "quase sem sonhar", ilustram o processo de isolamento voluntário e a perda temporária de vitalidade que, paradoxalmente, podem ser um prelúdio para futuras manifestações da essência mutável do ser.
Assinale a alternativa com a sequência correta: